Limpeza e higiene

A limpeza. Essa é uma outra qualidade das cidades alemãs. Tudo limpinho e com o mínimo de poluição visual possível. Em algumas cidades, tais como Friburgo (Freiburg), as calçadas são feitas com tanto primor que você chega a ficar espantado. Já que toquei no assunto limpeza, vou comentar algo a respeito da higiene pessoal dos alemães. Muitos dizem que alemão não toma banho, e contei muito com isso quando conheci meu namorado. Fiquei surpresa quando ele me disse que tomava banho de ducha todos os dias e quando vi que seus colegas faziam o mesmo. Foi então que ele me contou que existem buchas especiais para que as pessoas possam se lavar sem ter que se molhar completamente. Elas são usadas muito pelos idosos mas também por aqueles que não querem tomar banhos completos, especialmente nos períodos de inverno rigoroso. Eles enchem a pia com água, molham a bucha e mandam ver! J

Pude realmente verificar o fato do "banho de pia" nos campings que visitei. Em geral existem cabines, sendo que cada uma delas é equipada com pia individual, torneiras de água quente e fria, espelho, uma prateleira e cabide para dependurar toalha e roupas. Lá o pessoal toma o famoso banho de pia. Pelo que percebi, geralmente são mesmo os idosos e o pessoal de mais de cinqüenta anos que freqüentam esse tipo de banho. Cheguei a presenciar uma mulher de seus cinqüenta e tantos anos que estava tomando o banho na pia do banheiro social mesmo; o tronco superior despido, uma toalhinha molhada e mãos à obra! Ainda prefiro o meu método de tomar uma boa ducha todos os dias! J

Coloco abaixo um interessante artigo sobre o costume brasileiro de tomar banho diariamente. Infelizmente não sei o autor.

"O Padre Aderbal Murta conta que o reitor da Universidade de Louvain, na Bélgica, não ficou nada satisfeito quando os seminaristas brasileiros, que iam chegando por lá, começaram a pedir um banheiro, um pequeno cômodo no grande conjunto de edifícios, algo que eles consideravam necessário e muito importante. Isso mesmo, um banheiro, um local onde se lavar de pé e cabeça, receber água vindo de cima, passar sabonete, enxaguar o corpo, enxugar, depois, com toalha felpuda. Não o banho de bacia, de sopapo, como diria o meu amigo Nô Barrão.
Banho mesmo, de chuveiro, com água morna, não pelando, nem fria, que ninguém é de ferro. Essa exigência, disseram os administradores, era coisa de estudante subdesenvolvido, tinha que vir de brasileiros, sujeitinhos metidos a besta! Banho na Bélgica, até então, era banho de luva, de esponja, apenas esfregando, sem correr água, sem molhar o chão...
Pois bem! Agora, leio na revista BRASIL ROTARIO interessante comentário de Derli Antônio Bernardi, de Maringá, dizendo de quando tomar banho era pecado e dava até cadeia. Quanta curiosidade! Tinham perdido a sabedoria árabe, segundo a qual "a água é o mais eficiente de todos os remédios e o melhor de todos os cosméticos". Tinham perdido a experiência egípcia de quando se tomava banho em tinas de ouro, e, da Grécia, quando o palácio do Rei Minos possuía a mais espetacular banheira da antigüidade, decorada com mármore e pedras preciosas. Tinham se esquecido da tradição banhista de Roma, quando os banheiros eram tão grã-finos que havia vinte e cinco qualidades diferentes de banhos - com óleos, vapores, ervas, essências, etc. - e havia ao lado deles galerias de arte, teatros e templos dedicados aos deuses.
Os bárbaros, quando invadiram a Europa, pobres coitados, culparam os banhos coletivos pela decadência romana. Aproveitaram a guerra e destruíram todos os banheiros públicos e particulares, varrendo, por quase mil anos, o higiênico e gostoso costume, fazendo praticamente desaparecer a palavra banho.
O tempo corre, não pára, e, na Idade Média, os livros de etiqueta recomendam apenas lavar as mãos antes das refeições, o que não é de se admirar, porque naquele tempo ainda não havia talheres, era tudo na base do capitão. Coisa estranha, a Rainha Isabel de Castella não fazia segredo de quantos banhos havia tomado durante toda a sua vida: apenas dois, um ao nascer e outro ao se casar, para ficar cheirosa para o real consorte, no primeiro dia de lua-de-mel.
Por mais incrível que pareça, também a religião contribuiu grandemente para o declínio da popularidade do hábito de banhar. São Gregório proibiu os banhos aos sábados "principalmente se a finalidade fosse higiênica". Houve até uma lei permitindo o banho apenas às terças-feiras. Banhar-se era pecado, luxúria, um gosto muito mundano, um zelo excessivo com o corpo, ora pois!
Foi em torno do ano de 1800 que, na Inglaterra, apareceu uma casa de banho à moda turca, com freqüência permitida apenas para homens e cortesãs, hermeticamente fechada às mulheres de família, porque indigna da gente seria do belo sexo. Na França, ao tempo de Napoleão, houve maior liberalidade e até apareceu uma nova profissão, a dos banhadores, que saíam, de casa em casa, carregando tinas para lavar a suja nobreza. Na América colonial, os puritanos consideravam banhos e sabonetes coisas impuras, chegando ao ponto de, na Filadélfia, quem tomasse mais de um banho por mês, tinha de ser condenado à cadeia por desrespeito aos bons costumes.
A primeira casa de banhos pública de Nova York veio aparecer em 1852, mas só regulamentada por comissão especial em 1913. Banho farto, diário, de mais de uma vez por dia é mesmo coisa de brasileiro. E não e devidamente por dois terços da nossa raça, a africana e a portuguesa, que também não era lá de muita água. Devemos a tradição aos ancestrais do sangue tupi e guarani, nossos índios que apreciavam e muito as brincadeiras e os mergulhos nos rios e nas praias, principalmente nos dias de maior calor, pois divertimento maior não poderia haver! Como disse: banho, mania de brasileiro..."

Ainda no assunto higiene pessoal, uma coisa que me deixou espantada ocorreu quando em uma das minhas conversas com o Thomas, caímos no assunto de depilação feminina. Qual não foi minha surpresa quando o Thomas me disse que as mulheres alemãs não se importavam muito em se depilar. As principais razões para tanto são que o frio na Alemanha é muito rigoroso e, por conseqüência, o corpo fica coberto com roupas pesadas a maior parte do ano, e também que as alemãs não possuem grande volume de pêlos espalhados pelo corpo, não havendo assim necessidade de um intenso controle depilatório. Bem, é isso mesmo o que ocorre. Tive um exemplo disso na Itália, quando vi uma senhora com pêlos embaixo dos braços. Tudo bem que os pêlos não eram em grande quantidade, mas que isso traz um incômodo para quem vê, isso traz.J O Thomas me garantiu que as mulheres que freqüentam piscinas de academias se depilam e que as gerações mais jovens são adeptas da depilação.

Veja também as seções "Cal na água" e "Cozinha e banheiro numa residência alemã".