Cozinha e banheiro numa residência alemã

Uma das coisas que espantou o Thomas foi ver caminhões de gás circulando aqui no Brasil. Há mais de 30 anos eles foram sendo substituídos pelos fogões elétricos.

As geladeiras alemãs são pequenas caixas de isopor para os olhos de um brasileiro. Nas cozinhas planejadas, muitas estão embutidas atrás das estreitas portas dos próprios armários. É uma luta poder colocar alimentos congelados no congelador de uma geladeira, especialmente para aquelas pessoas - como eu J - que os compram em grandes quantidades. Neste caso, há realmente a necessidade de se ter um freezer em separado. Muitos alemães os têm em seus porões (Keller).  Com geladeiras tão apertadas, não é para menos! J Não existe aquele hábito brasileiro em fazer as compras para o mês. Para um país como a Alemanha que não sabe o que é mega-hiperinflação, totalmente justificável! J Além disso, se analisarmos por exemplo a compra de um brasileiro, que consiste por exemplo em grandes pacotes de arroz (5 Kg), pacotes de feijão, entre outros produtos, e compararmos com os produtos disponíveis nos supermercados alemães - normalmente oferecidos em pequenas quantidades - bem como os hábitos alimentares alemães, percebemos aí uma cultura já disseminada em que as compras são feitas em pequenas quantidades. Comparando-se também as grandes cidades alemãs com as brasileiras, fica claro como um transporte público eficiente conta muito. Mesmo que as facilidades não sejam tão próximas às residências tais como bancos, supermercados, farmácias, entre outros, a facilidade de acesso à tudo isso nas grandes cidades alemãs é enorme. É possível se escolher entre várias modalidades de transporte público, como os ônibus, o metrô ou os bondinhos (Straßenbahn). Totalmente diferente de uma cidade como São Paulo, onde para muitos dos locais básicos que freqüentamos, há necessidade de se percorrer grandes distâncias, com um transporte público deficiente e valorizando a cultura do carro como necessidade básica. É claro que compras mensais são a melhor alternativa nesse caso.

Falando de hábitos de consumo na Alemanha, estes foram se alterando ao longo do tempo assim como no Brasil, especialmente devido à influência das grandes multinacionais. Se antigamente aqui no Brasil produtos alimentícios eram adquiridos nas antigas mercearias e empórios, não diferentemente, na Alemanha estes eram adquiridos nas lojas de armarinhos alemãs conhecidas como Tante-Emma-Laden (literalmente: Loja da Tia Emma). Roupas e demais produtos eram obtidos em pequenas lojas especializadas. O atendimento era individual e personalizado. Desde o final dos anos setenta, com a crescente motorização e o estabelecimento dos centros de compras fora das regiões centrais das cidades, os alemães passaram a ter à sua disposição uma vasta quantidade de mercadorias a preços convidativos. O governo até tentou intervir para evitar a falência coletiva das pequenas lojas - e conseqüente desemprego - com ações tais como a proibição por lei do funcionamento de estabelecimentos aos domingos e horários restritos aos sábados (o horário de fechamento aos sábados foi flexibilizado por uma nova lei. Antigamente era às duas da tarde e hoje em dia pode ser às quatro da tarde). Mesmo assim, em grandes cidades alemãs, lojas como Tante-Emma-Laden estão quase no esquecimento. Paralelamente, outras mudanças foram acontecendo, tais como os calçadões de compras com tráfego de veículos proibido nos centros das cidades, as galerias de compras - muitas situadas no subsolo - e os modernos complexos de lojas de departamentos. Segundo estatísticas, mais de 60% dos pedestres destes locais não têm o desejo de comprar algo estritamente necessário, mas apenas desfrutar a atmosfera, se informar sobre possíveis promoções ou tomar ou comer algo num dos muitos cafés e restaurantes disponíveis.

Ver um alemão lavando louça pode ser algo chocante para um brasileiro. Isso porque o desperdício de água é levado estritamente a sério pelos alemães. Além de cara, a água é um bem que deve ser economizado. Esse comportamento já se tornou uma cultura amplamente disseminada entre os alemães. Normalmente enche-se com água a cuba aonde está a louça, adiciona-se detergente e procede-se então a lavagem. Lembro-me até hoje quando um brasileiro se queixou quando notou que, após a lavagem com detergente, um alemão simplesmente colocou a louça no escorredor, repleta de sabão. Ele me disse: 'Que nojo! Ele vai comer novamente neste prato sem ser enxaguado!". Mas é assim mesmo. Lógico que esse caso é extremo, pois em geral é feito o enxágüe dos pratos. Isso não significa que o mesmo seja feito da forma mais higiênica, pois apenas esvazia-se a cuba e enche-se novamente com água limpa sobre os pratos. Mas os pratos estão sendo lavados dentro de uma água ainda com resquícios de detergente!? Eu disse que não era da forma mais higiênica! J

Sem dúvida alguma este hábito tem uma justificativa - a consciência ecológica alemã bem como o preço salgado que se paga ao se abusar do uso da água. Dessa forma, economizar água acima de tudo é uma cultura já disseminada. Coloco abaixo uma tabela interessante sobre "Como os países cobram a água".

Como os países cobram a água

Alemanha Estados Unidos França

Existe uma taxa única federal de saneamento. Usuários que descartam efluentes líquidos também pagam taxa. Os consumidores rurais estão livres de pagamento.

Varia de região para região e depende do clima e da escassez de água. A arrecadação financia os projetos de irrigação. Existe também um mercado de águas (quem tem mais vende para quem tem menos).

Um conselho de administração determina a cobrança e faz orçamentos. Uma agência pública executa a cobrança, informa o público sobre problemas e redistribui recursos entre os comitês de bacia.

México Reino Unido Chile

Quando começou a cobrança, a metade da arrecadação vinha de quem captava e outra metade de quem poluía. Depois da entrada no Nafta - o acordo de livre comércio da América do Norte - 90% provêm de quem polui e 10% de quem capta.

Para captação de água há uma tarifa anual, baseada no volume captado. O valor pode variar conforme as perdas de água e a sazonalidade da oferta (anos com mais ou menos chuva). Existe uma cobrança menor para irrigação.

Possui mercado de águas com licenças comercializáveis.

Fonte: O Estado de S. Paulo


Áreas de serviço são raras e tanques para lavagem de roupa ainda mais raros. Quase todas as famílias alemãs possuem máquina de lavar roupa e se for necessário lavar uma roupinha na mão dirija-se à pia de banheiro mais próxima. Deixar roupas de molho? Se tiver uma banheira de hidromassagem no banheiro eis aí a solução, caso contrário ponha num balde ou simplesmente não deixe de molho. J

Um outro detalhe interessante é o papel higiênico dos banheiros. Isso mesmo, o papel higiênico! Na Alemanha, eles são sempre jogados dentro do vaso sanitário, sem qualquer medo de entupir o encanamento e ter que se deparar com todo aquele serviço feito pelos habitantes da moradia voltando à tona. Mas é claro que isso não se estende aos absorventes - nos banheiros públicos sempre existem saquinhos e um mini-lixo na parede para que estes sejam devidamente colocados. É muito engraçado ver a diferença cultural nesses pequenos detalhes. O que para um alemão seria sinal de falta de higiene, para um brasileiro seria questão de sobrevivência. J Por incrível que pareça ainda tenho a impressão que o encanamento vai entupir!

Veja também as seções "Limpeza e Higiene" e "Cal na água".