Bielefeld

Bielefeld não estava em nossos planos de viagem mas foi imediatamente incluída quando recebi um e-mail realmente providencial de um grupo de discussão sobre a língua alemã. O e-mail tinha como assunto o seguinte tópico: "Verão Medieval na Alemanha". Tratava-se de uma reportagem sobre feiras medievais realizadas na Alemanha, entre elas a da cidade de Bielefeld. Coloco abaixo essa reportagem bastante interessante que recebi.

E para não perdermos essa oportunidade interrompemos inclusive o roteiro de viagem para depois continuarmos uma vez que a feira aconteceu em apenas três dias, no caso 27, 28 e 29 Julho de 2001.

Essa foi uma experiência sensacional. Muitas das coisas relembram as épocas medievais. As vestimentas dos organizadores da festa, os produtos vendidos, os artesãos executando as peças no próprio local. Existe uma trupe principal que anima o pessoal circulando pela feira cantando e dançando, todos vestidos a caráter. Os shows consistem de mostras de malabarismo, danças da época e músicas tocadas em gaitas-de-fole. Estas, aliás, lindíssimas, com madeira esculpida com cabeças de animais, por exemplo. Realmente bastante interessante! Vendia-se Met - uma cerveja misturada com mel -, cerveja preta, suco de maçã com e sem gás, um prato muito interessante que consistia em arroz servido em uma casca de repolho, pequenas peças de cerâmica as quais produziam sons interessantes semelhantes aos de pássaros se sopradas, vassouras confeccionadas com pequenos gravetos, os mais diversos artefatos em madeira, sapatos em couro em estilo medieval e até mesmo ciganas lendo mãos. Neste caso eu teria um sério problema pois em alemão não poderia entender o meu destino. Acho que assim é bem melhor! Não entender nada e não se arrepender depois de ter caído no conto do vigário! J

Achei muito interessante como o ferreiro alemão confeccionava uma faca em estilo medieval. Além do carvão para aquecer o ferro ele também possuía dois foles, ou seja, insufladores de ar, os quais pressionava com os pés. Muito legal!

Curti muito quando vi um dos funcionários da feira se contorcendo para vestir uma armadura medieval. E quando o Thomas me falou que o alemão falado pelos comerciantes em suas barraquinhas era um alemão arcaico, remetendo à época medieval? Realmente é algo bastante curioso para ser visto. A sensação para alguém que veio de um país que nunca teve esses tipos de costumes ou tradições é como se tudo fosse uma grande novidade, cada detalhe uma experiência nova, um grande acontecimento. Realmente recomendo pois é uma oportunidade única! J

Verão medieval na Alemanha

Berlim, 6 de julho de 2001

     Comerciantes, bobos da corte, artesãos e menestréis cantam nas vielas apinhadas de barracas no Sparrenburgfest, festa que reproduz um mercado medieval no pátio do Sparrenburg, uma fortaleza centenária localizada em Bielefeld, cidade a cerca de 100 quilômetros a sudeste de Hannover. Numa mistura de conto de fadas com lenda épica, um torneio de cavaleiros medievais no interior da Bavária convida para o retorno a um passado distante. Com a chegada do verão, festivais medievais são realizados em diversas localidades da Alemanha, proporcionando aos viajantes e moradores um verdadeiro mergulho no túnel do tempo.
      Ao atravessar os portões da fortaleza Sparrenburg, o visitante tem a impressão de que está entrando num filme. Num mercado medieval, vendedores oferecem artesanatos e peças para uso diário, úteis no duro e frio cotidiano medieval. Vestindo trajes de época, eles não só expõem suas mercadorias, como também podem ser vistos em pleno trabalho, usando material e ferramentas característicos do período. Nos palcos, grupos musicais com instrumentos de época executam melodias antigas não só européias, como também de culturas asiáticas distantes. Trapezistas e bobos da corte apresentam-se em meio à multidão, provocando a curiosidade e os risos dos passantes. Os cuidados para manter todo o clima do período chegam até mesmo à linguagem dos atores. O alemão falado pelos mercadores e artistas usa termos que eram vigentes mais de cinco séculos atrás. É o cinema perfeito, só que em carne e osso.
      Responsável pela atmosfera épica da festa que se repete todos os anos em Bielefeld é o grupo "Kramer, Zunft und Kurzwey" (palavras do alemão arcaico para "comércio, corporação e divertimento"), uma companhia itinerante com mais de 140 profissionais especializados na apresentação de festas, shows e mercados medievais em castelos, ruínas e praças históricas por diversas localidades da Alemanha. A caravana é formada basicamente por artistas que viajam pelo país nos meses mais quentes do ano e que no resto do tempo oferecem workshops ou se empenham na formação de novos membros e espetáculos da companhia.
      O Sparrenburg é o principal cartão-postal de Bielefeld. Esta fortaleza foi construída entre 1240 e 1250 e localiza-se sobre uma colina de onde os visitantes têm uma vista privilegiada da cidade e de seus arredores. A festa medieval, conhecida como Sparrenburgfest, acontece entre 27 e 29 de julho e a entrada custa cerca de US$ 2. Crianças com até 1,20 metro de altura não pagam.
      Já no Torneio de Cavaleiros de Kaltenberg, realizado no castelo de mesmo nome, 50 quilômetros a oeste de Munique, na Bavária, heróis, magos, príncipes, princesas, reis e rainhas são personagens de um imenso teatro a céu aberto. O cavaleiro negro desafia a guarda do rei para uma luta de vida ou morte, um confronto entre o bem e o mal em que só um lado sai vencedor. A festa ocorre anualmente nos primeiros três primeiros fins de semana de julho e, segundo os organizadores, é a maior encenação de jogos medievais de todo o mundo.
      Apresentado numa arena com capacidade para 13 mil pessoas construída aos pés do castelo de Kaltenberg, o espetáculo é uma experiência única. A trupe de dublês franceses Les Cascadeurs Associés é a principal responsável pelo espetáculo encenado no Torneio de Kaltenberg. Com generosas pitadas de pirotecnia e virtuosismo eqüestre, a competição entre cavaleiros medievais munidos de armaduras, espadas e machados ocorre há 22 anos e já se tornou uma tradição na Bavária.
      O castelo de Kaltenberg apresenta hoje uma fachada em estilo neogótico adquirida em sua última restauração, ocorrida no início do século 19. Mas seus primeiros fundamentos derivam de uma fortaleza construída em 1292. Após ter sido arrasado num conflito entre famílias em 1320, o prédio permaneceu em ruínas por séculos até 1420, quando foi reerguido por um aristocrata de Augsburg. No século XVII o complexo foi novamente posto abaixo durante a Guerra dos Trinta Anos, sendo reconstruído por padres jesuítas. Depois de ter passado por diversos donos e ter sido reformado várias vezes ao longo da sua história, o prédio ganhou o atual perfil neogótico. Em 1976, o complexo voltou a ser residência de um nobre de verdade, o príncipe Luitpold da Baviera. Kaltenberg abriga hoje restaurantes, tavernas e nos seus subterrâneos funciona uma cervejaria que produz essa bebida em escala comercial desde 1870.
      A festa não se restringe aos embates entre guerreiros, mas se estende também ao interior da construção que dá nome ao evento. No pátio interno, quase mil artistas que se revezam em sete palcos divertem os visitantes com shows de música medieval, enquanto barracas oferecem bebidas, comidas e muitos outros artigos típicos da Idade Média. Ao atravessar o fosso do castelo e adentrar o complexo, os visitantes encontram um cenário de muitas vielas e mais de cem barracas.
      Vendedores, artistas e transeuntes vestidos a caráter dão um clima peculiar ao evento. As entradas para o Torneio de Kaltenberg custam, para adultos, a partir de US$ 15. Mais informações podem ser encontradas na Homepage do evento, no endereço www.ritterturnier.de

Gazeta Mercantil - Fim de Semana - p. 16 - Márcio Damasceno

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