Táxis, Trânsito, Estradas, etc.

Táxis e veículos

A Alemanha é o paraíso dos automóveis que todo mundo sonha em ter um dia. Táxis e carros de polícia (com exceção dos camburões que são estilo van) são nada mais nada menos do que belas Mercedes circulando pela cidade. Considerando que os táxis são alternativas caras para os estudantes, quero ser presa! Assim posso dar umas voltas nesses carros maravilhosos de graça. J O principal motivo para que Mercedes sejam adotadas como táxis na Alemanha é que o custo-benefício é bastante vantajoso. A manutenção necessária para os carros da Mercedes é bem baixa comparada com os quilômetros rodados dos demais carros. E como táxi roda muito, vale muito a pena ter um carro destes, mesmo que o investimento inicial não seja tão baixo. Aqui no Brasil nunca vi uma Mercedes como táxi e acho que nunca vou ver. Foi muito engraçado pois o Thomas andou no Rio de Janeiro de táxi e num Voyage bem velhinho, daqueles bem barulhentos e ainda voltou com marca de graxa na calça. Quanta diferença! Mais um detalhe interessante: a igreja católica tem uma associação com a Audi e muitos dos padres compram por um preço mais que especial os carros da Audi. Já mudei de idéia, quero ser padre! J 

Uma outra coisa que pude reparar é que em geral os alemães recebem carros das empresas onde trabalham sendo que podem usá-los tanto na vida doméstica como para viajar. Assim é muito comum durante as férias ver os carros com os adesivos das empresas estampados rebocando traillers ou então com a família toda indo viajar. 

 

Estradas e comportamento

As estradas alemãs são planíssimas e mantidas impecavelmente. Bem, a Alemanha em geral é plana. Só no sul que existem realmente o que podemos chamar de rampas íngremes. Com base nisso dá para se entender muito bem porque carro europeu é tão baixo e porque se dá tão mal aqui no Brasil. Lembro-me muito bem quando eu e o Thomas estávamos parados num farol na cidade dele e ali havia uma rampinha que sequer faria cosquinhas no freio de mão do carro. Bem, pois é... mas mesmo assim o Thomas puxou o freio de mão, todo preocupado com aquele protótipo de rampa.J   Aí é que mais uma vez eu percebi que as diferenças podem estar até nos pequenos detalhes do dia-a-dia.

A manutenção das vias, como já dito, é levada muito a sério. Torna-se até engraçado para um brasileiro, acostumado a vias esburacadas e irregulares, observar o que seriam estes mesmos buracos e irregularidades para os alemães. Cheguei a passar em vias que consideraria em bom estado, a não ser por algumas pequenas áreas de asfalto já destacado mas que jamais causariam grandes riscos à direção do veículo, onde haviam placas de perigo, cuidado, atenção com a via danificada, por todo o lugar. Quem dera fosse assim no Brasil... J

Ainda no assunto estradas, na Alemanha é expressamente proibida a entrada de pedestres nas rodovias de alta velocidade (Autobahn) e estas são protegidas em suas laterais para tanto. Foi muito interessante ouvir o comentário indignado do Thomas quando viu pessoas andando nos acostamentos durante nosso retorno do Aeroporto de São Paulo. Mas lá na Alemanha isso é proibido! Isso porque ele ainda não tinha visto o pessoal cruzando correndo a estrada!  J Bem, não dá pra comparar países com uma disparidade grande de desenvolvimento.

Se você vir essa plaquinha aí do lado numa estrada alemã, isso significa que a partir do momento que você a viu, pode pisar fundo! O trecho que se segue de rodovia é sem limite de velocidade. Mas atenção pois pelo que percebi isso não dura muito. Logo vem uma outra placa informando o limite de velocidade.

Que maravilha... Thomas e eu no carrinho bem antiguinho da avó dele a 120 km/h na faixa da extrema direita. Caminhões nos ultrapassando. Que beleza. J Na faixa da extrema esquerda, Porsches, Mercedes, Audis, BMWs... Ah, mas Ferrari eu só vi uma vez! J Velocidade? Se bobear 250 km/h é fichinha. O mais interessante é observar que existe uma hierarquia imaginária criada pelos próprios motoristas. É como se o melhor motorista ou o melhor carro só seja aquele que trafegue na maior velocidade possível. Este estaria no topo da pirâmide hierárquica e teria o direito de praticamente "passar por cima" daquele que infringisse a mesma. E o ranking se segue conforme a velocidade de cada carro. Dessa forma, quando um motorista em alta velocidade vê à sua frente um carro mais lento, ele automaticamente deixa o carro chegar bem próximo e breca praticamente colado ao carro da frente, pressionando-o a sair do caminho imediatamente, como se quisesse dizer: "Dá licença! Você está infringindo a nossa hierarquia! Eu que deveria estar na sua frente pois dirijo mais rápido!". Isso sem contar outros sinais usados, tais como piscar diversas vezes o farol, ligar o pisca-pisca da esquerda...

Vendo o comportamento dos motoristas alemães eu fico assustada. Na Alemanha é proibido ultrapassar pela direita; até aí nada de diferente. O diferente é que além disso não se pode ter velocidade maior que o carro que está a sua esquerda, exceto se você estiver se dirigindo para uma saída da estrada, bem como não se pode de maneira nenhuma atrapalhar um carro que está atrás de você com velocidade maior que a sua em qualquer faixa. Percebi que isso é levado a sério demais na Alemanha. Quando ocorre por exemplo de um carro estar na faixa da extrema esquerda a 200 km/h e então vem um Porsche a 250 km/h, esse pobre primeiro carro simplesmente se joga na faixa à sua direita e simplesmente dá uma freada fenomenal atrás do carro que estava obviamente em velocidade muito menor nessa mesma faixa. Assim, devido a essas regrinhas serem levadas a ferro e fogo, a quantidade de fechadas e zigue-zagues nas estradas é fenomenal. Mas estamos em uma estrada e não no trânsito corriqueiro de uma cidade! Uma fechadinha dessas pode causar a morte. Bem, pelo que vi eles não estão tão preocupados. E por isso mesmo quando ocorre um acidente numa auto-estrada alemã é de arrasar. Se o motorista escapa é por milagre em muitos dos casos. Cheguei a ver um acidente que acabara de ocorrer numa auto-estrada. O carro simplesmente vira salsichinha. Não é pra menos.

 

Placas de trânsito e sinalização

E a quantidade de placas de trânsito então? Nunca vi coisa igual! Tem placa pra tudo e mais um pouco. Os próprios alemães dizem que a Alemanha é uma Schilderwald (Floresta de Placas). Ao menos da minha parte está provado que não estou exagerando demais... J  Cheguei a ver três tipos diferentes de placas para representar a mesma coisa. No caso foi a passagem em nível com barreira (cruzamento com linha de trem com chancela). Havia a placa que temos comumente no Brasil, uma outra com um trenzinho desenhado e uma terceira com um trenzinho desenhado de outra maneira. Por que não uniformizar a nomenclatura? Esse tipo de coisa só complica a vida. 

Próximo à república do Thomas é muito difícil estacionar especialmente porque existe um grande supermercado que atende a região e porque os estudantes e os moradores locais (pessoas idosas e imigrantes) precisam estacionar nas poucas vagas não pagas que existem. Procurando alternativas de estacionamento fomos parar no estacionamento de outro mercado da região. Fomos então ver as placas para ver se o estacionamento seria pago e em que período do dia. Que comédia! Havia uma placa que era permitido estacionar. Uma segunda que era permitido entrar no estacionamento de tal a tal hora. E uma terceira dizendo que aquele era um local de descarga para os caminhões do supermercado de tal a tal hora. Conclusão: estacionamos. No dia seguinte vimos o resultado da besteira que fizemos. O estacionamento estava abarrotado, caminhões por todos os lados e nosso carro ficou bloqueado pelos outros carros. Tivemos que sair do estacionamento atravessando a calçada para poder chegar na via. Que coisa! J

Vale a pena também explicar o significado de uma placa que em muitos momentos pode se tornar de vital importância para quem está dirigindo dentro de uma cidade - a placa de contra-mão.

Esta realmente é um caso à parte, pois é totalmente diferente do que estamos acostumados ou mesmo de quaisquer possíveis variações que pudéssemos imaginar para a mesma. Da primeira vez que vi a placa, já tinha algumas noções de alemão, mas acabou sendo mais prejudicial do que não soubesse nada da língua. Isso porque quando se lê, a primeira palavra que se destaca é "Bahn", que significa "ferrovia, estrada de ferro, trem". Aí cheguei à conclusão que a mesma poderia estar indicando o caminho do ponto mais próximo do bondinho de rua, ou seja, do Straßenbahn, e fazendo uso de toda aquela imaginação fértil, que a palavra "Bahn" representasse uma abreviação para a palavra bondinho em alemão. Putz, ao pegar o dicionário veio aquela tradução que pôs fim à qualquer criatividade precoce - Einbahnstraße = rua de mão única. Que palhaçada! J

Falando em bondinhos (Straßenbahn), também queria comentar uma situação que não ocorreu uma vez só quando dirigindo no centro das cidades alemãs. Muitas vezes eles andam numa faixa adicional no canteiro central que divide as pistas de direções opostas. O detalhe é que os mesmos andam no mesmo nível dos carros, pois também ocorre de eles correrem paralelos aos veículos. Assim, outro dia mandei ver ao atravessar um cruzamento e já estava quase entrando na pista exclusiva dos bondinhos. E o Thomas só se manifestando "Aqui não, mais pra lá, mais pra lá". Ainda bem que deu tempo de disfarçar e abrir mais a curva e pegar a minha pista de direito. Ufa! Dessa vez minha frase de brincadeirinha poderia se tornar uma péssima realidade: "Barbeiragem na Alemanha!" J

Outro detalhe importante: quando os bondinhos correrem nas vias junto com os carros e seus pontos de parada forem do lado da calçada, ou seja, as pessoas não desembarcam num canteiro central, pare sempre quando eles pararem! Os pedestres descem sem olhar para qualquer lado porque é pressuposto que os carros parem.

Outro detalhe que deixa qualquer motorista brasileiro de cabelo em pé se trata das faixas pintadas nas vias para separar as pistas com diferentes mãos de direção.

Diferentemente do Brasil, cujas faixas para esse propósito são amarelas, na Alemanha, todas as faixas são brancas, independente da função. Isso pode se tornar em muitas horas bastante confuso. Vou tentar esclarecer aqui um pouco o sistema. A linha contínua branca indica a separação de duas pistas com diferentes mãos de direção. Fica-se então subentendido que ela é o limite para qualquer motorista, jamais devendo se avançar além dela bem como sendo a ultrapassagem proibida (situação 1).
A linha branca tracejada indica que os motoristas de ambas as direções podem fazer ultrapassagens (situação 3).
A linha dupla é utilizada em trechos de via aonde numa direção é permitida a ultrapassagem - faixa contínua - e na outra não - faixa tracejada (situação 2).
A linha dupla branca contínua só ocorre imediatamente antes ou após um trecho da via aonde era permitida a ultrapassagem de veículos em um dos lados, ou seja, a situação 2.

O mais interessante é que a linha branca tracejada também designa as diferentes pistas para uma mesma direção tanto na auto-estrada como em vias de múltiplas faixas dentro da cidade. Ou seja, uma hora essa faixa pode separar duas mãos, outra hora pode ser usada dentro da mesma mão. Ai, que confusão. J

 

Trânsito e férias

A Alemanha é um país de população de tamanho infinitamente menor se comparado ao Brasil, mas da mesma forma possui um território bem menor. Assim, podemos erroneamente chegar à conclusão que na Alemanha não existe engarrafamento. Ledo engano! Especialmente na época em que as crianças entram em férias escolares de verão, a corrida às estradas começa. Die Staus, ou seja, como os alemães denominam seus engarrafamentos, podem chegar a quilômetros de extensão. Mas não somente nas férias existe tráfego intenso. Nos fins-de-semana, quando o tempo  está ensolarado (o que é ocasião de festa para os alemães pois freqüentemente o tempo está chuvoso ou frio), o pessoal não quer saber de ficar em casa. Mas o mais interessante é observar como as ruas das cidades ficam vazias nos fins-de-semana. No entanto, se entrarmos nas estradas, que diferença! J Uma lei de trânsito que ajuda bastante os turistas de fim-de-semana é a proibição da circulação de caminhões nas estradas aos domingos. Mas na segunda de manhã, todos os caminhões saem ao trabalho e haja trânsito e paciência! J

Lembrei-me agora de um fato que gostaria de comentar e que está diretamente relacionado às minhas análises sobre as placas de trânsito alemãs em um dos parágrafos anteriores. Uma prova de que na Alemanha as placas confundem a cabeça de qualquer motorista são os Geisterfahrer, ou em bom português, os motoristas fantasmas. Eles são aqueles motoristas que entram nas auto-estradas pela saída, ou seja, os que entram na contra-mão. Existem motoristas que demoram um tempão pra sacar o erro. Eles entram errado e mandam ver! Isso acaba se tornando um grande perigo e motivo de bagunça nas tão organizadas e, às vezes, monótonas estradas alemãs.

 

Pedestres, ciclistas e motoqueiros

O respeito ao pedestre é algo bem definido na Alemanha. Existem normas bem claras que são rigorosamente respeitadas. Uma delas são as faixas de cruzamento (Zebrastreifen) de pedestres identificadas com placas próprias na cor azul. Se um pedestre só ameaçar entrar nelas, o carro tem que parar. Tem que parar mesmo! J

Numa das minhas andanças não resisti em tirar uma foto disso que para os brasileiros é um acontecimento! Igualmente, as bicicletas têm total prioridade em relação aos veículos. Sempre que houver necessidade de entrar com o veículo em algum local - estacionamento por exemplo - onde exista uma ciclovia, tem-se sempre que olhar atentamente se não há qualquer bicicleta passando no momento.

É simplesmente uma tranqüilidade trafegar nas cidades alemãs, mesmo em horários de pico. O principal motivo disso é o simples fato das pessoas respeitarem o tráfego umas das outras. Lugar de moto, por exemplo, é ocupando o espaço de um carro. Nada de gracinhas ao passar correndo entre carros. Sem dúvida a atenção também é redobrada principalmente para uma estrangeira como eu, a qual não está acostumada a seguir todas as regras. Mas quando vemos as coisas sendo respeitadas e sendo feitas da maneira correta, a adaptação além de ser rápida nos faz reprovar e se desacostumar com as coisas erradas que anteriormente praticávamos.